Foi em março de 2020 que os primeiros decretos e normativas oficiais foram publicados instituindo práticas de contingência contra o avanço da COVID-19 no país. Uso obrigatório de máscaras, distanciamento social, suspensão de atividades presenciais… Essas foram apenas algumas das ações colocadas em prática, compondo um cenário de muitas instabilidades. Em meio a crise sanitária, uma série de setores foram profundamente afetados — e certamente a educação foi uma das áreas que mais sentiu os impactos pandêmicos.
Problemas com a adequação do calendário letivo, falta de equipamentos que possibilitassem o acesso à internet e também desorganização foram apenas os primeiros sinais negativos emitidos a partir das medidas de contingência. Com o tempo foi possível enxergar a ampliação massiva de tudo isso. As telas, apesar de consideradas fundamentais naquele momento, foram muitas vezes insuficientes para a construção do conhecimento. Educadores e educadoras precisaram desenvolver estratégias criativas para lidar com o contexto — e não à toa suas jornadas de trabalho passaram a ser ainda mais exaustivas com a necessidade de mediar tudo à distância por celulares e computadores.
A verdade é que a pandemia não nos trouxe novidades no ensino, ela intensificou fragilidades já existentes. A escola, além de um espaço de construção de conhecimento, é também um local fundamental para a construção de sociabilidade, além de também ser um espaço conectado às demandas de seu território, principalmente no caso das escolas públicas em regiões vulneráveis.
A adoção de medidas improvisadas muitas vezes descarta o todo, deixando várias brechas soltas. Tentar enquadrar um esquema de ensino dentro de um sistema à distância não resolve de fato os problemas vivenciados porque essas estruturas têm metodologias, didáticas e práticas totalmente diferentes. Mais do que isso: a adoção de mudanças bruscas requer tempo, infraestrutura e treinamento, ainda que sejam para agir temporariamente.
Entre tantas perdas, muitas também foram as lições deixadas. A importância do preparo público para enfrentar coletivamente situações agudas, a importância de sempre trazer a ciência como um ponto fundamental do conhecimento humano e da solução de problemas, a importância da socialização em toda a sua potência… E por aí vai! Outra reflexão a ser pontuada é que o uso de tecnologias não só pode (como deve!) ser encarado como uma ferramenta no processo de ensino e aprendizagem, desde que os responsáveis por utilizá-las tenham a estrutura necessária para isso e que essa abordagem tecnológica não seja apenas figurativa.
Por fim, o contexto vivenciado só ressalta a necessidade de políticas que fortaleçam o panorama educacional brasileiro, que entendam as atuais demandas existentes e ajam sobre elas. As fragilidades presentes não descartam ou descaracterizam a importância e a potência existente na educação brasileira, mas mostram pontos que precisam ser refletidos e trabalhados para que possamos ofertar cada vez mais um ensino de qualidade.
- Por Mainara Thaís - Educativo Piraporiando