Labor Educacional

Avaliação da aprendizagem: um delicado tema da esfera educacional

“As recomendações atuais relativas à avaliação das aprendizagens defendem a ideia de que: deve estar em consonância com o currículo; deve integrar os processos de ensino e de aprendizagem; deve ser predominantemente formativa, ainda que articulada com a sumativa; deve praticar-se a autoavaliação e a autorregulação; as estratégias e instrumentos de avaliação devem ser diversificados, pois não há uma abordagem que seja adequada a todos os processos; deve ser transparente para todos os intervenientes, professores, alunos, pais, técnicos de educação, que deverão ter claros os conteúdos e os critérios da avaliação, participando na definição dos mesmos sempre que adequado. (FERNANDES)

A avaliação tem sido, há anos, um tema bastante controverso na educação. As transformações nas práticas pedagógicas vão acontecendo, ainda que lentamente, mas a impressão que se dá é que o ato de avaliar acaba não sendo tão coerente com as práticas em sala de aula. Exige-se um olhar diferenciado para o estudante, entretanto, a avaliação ou fica para o final do processo ou, quando acontece no meio dele, é de forma meramente classificatória e excludente.

Considerando a citação de Fernandes, percebe-se que a Metodologia Labor, em sua essência, possibilita vários aspectos elencados como importantes para a avaliação nos tempos atuais. Do ponto de vista da ONG, ao tratar da avaliação, pretende-se sempre identificar o que já foi conquistado, o que já se sabe, o que já se consegue fazer. Para isso, são necessárias duas coisas: um espelho e uma medida. Um espelho para que algo ou alguém nos mostre quem somos e como estamos em determinado contexto, e uma medida, ou seja, algo que nos indique como estamos em relação a um semelhante, permitindo-nos entender nossa maior qualidade, nossos limites e em que precisamos melhorar. Esse olhar nos remete a uma citação de Pedro Demo: “A razão da avaliação é a aprendizagem”, pois tudo o que consideramos tem como objetivo primeiro o educando e seu aprendizado efetivo.

Então, é importante resgatar o termo avaliação. Conceituando…

  1. “A avaliação permanece indispensável às atividades de ensino. […] Não há dúvida nenhuma de que a avaliação participa de maneira considerável na aprendizagem dos alunos.” (SIMÃO)
  1. “[…] avaliar é “recolher um conjunto de informações pertinentes, válidas e fiáveis e examinar o grau de adequação entre este conjunto de informações e um conjunto de critérios adequados ao objetivo fixado, com vista à tomada de decisão.” (KETELE, citado por GOUVEIA)

Se observarmos os termos em destaque (grifos nossos), podemos notar que, de fato, a avaliação deve ser considerada em vários aspectos, no entanto, a ênfase para a classificação não é perceptível no discurso de teóricos. Em contrapartida, faz-se necessária do ponto de vista burocrático da escola. Por isso, o impasse em que os educadores se encontram é sempre grande e gerador de muita inquietação. Como romper o sistema e fazer uso da avaliação como um recurso precioso para tomadas de decisão, para reorganização de ações pedagógicas, para direcionar o caminho trilhado pelos estudantes?

Vamos entender de que maneira a Labor Educacional compreende e enfrenta esses desafios através dos projetos que oferece às escolas públicas de todo o Brasil.

Alguns questionamentos envolvem a reflexão da ONG acerca da avaliação dentro de uma escola. Qual sua utilidade? Qual sua abrangência? Como torná-la condizente com o que foi ensinado? Quem deve avaliar? Quem está sendo avaliado? São vários os aspectos que devem ser levados em conta quando se fala em avaliar. O mais interessante é que ela não deve ser um fim em si, ao contrário, é apenas uma etapa que dará subsídios aos educadores para planejarem a continuidade do processo de ensino-aprendizagem. Isso é, considerar o papel do professor e ressignificá-lo e também o aprendizado do aluno e traçar outras estratégias para que os objetivos propostos sejam atingidos com sucesso. Nesse caso, a avaliação é um recurso para verificar: grau de aprendizagem, para quem a estratégia escolhida foi mais eficiente e se há pré-requisito para o próximo passo.

O fluxograma a seguir reflete o real significado da avaliação escolar.

Observando esse ciclo do ato de avaliar, nota-se que a avaliação só faz sentido quando se descobre:

  • em que os alunos estão capacitados
  • que conceitos devem ser retomados
  • que habilidades devem ser exercitadas.

Nessa perspectiva, a avaliação torna-se referência para melhorar a qualidade do ensino. E, além disso, é um norteador do trabalho desempenhado pelo professor, como já dissemos anteriormente. Para utilizá-la como diagnóstico, é necessário considerar os dois elementos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem: o professor e o aluno. A cada um deles cabe um papel, afinal, ambos têm objetivos diferentes dentro do ciclo da educação.

O PAPEL DO PROFESSOR

Seu objetivo é ensinar, apoiar e orientar o aluno para a aprendizagem. A ele cabem algumas ações: mostrar o caminho, ensinar como vencer obstáculos, olhar sempre para trás e verificar se todos estão acompanhando seu passo. Um trabalho bastante cuidadoso e envolvente, para o qual as percepções e atenção devem estar presentes.

O PAPEL DO ALUNO

Seu objetivo é aprender, sem desvios de rota para que possa chegar ao final do caminho traçado.

Por isso, ao aluno também são necessárias algumas ações: aprender o caminho, se superar para vencer os obstáculos, seguir o caminho – de acordo com seu passo (sua individualidade).

Ao observar os dois agentes que participam do processo avaliativo, fica mais fácil compreender a amplitude e a complexidade desse tema de que aqui tratamos. Também nos remete a um pensamento de que a avaliação deveria estar voltada ao progresso do educando. Nesse contexto, a análise do erro toma um rumo diferente da noção classificatória. Ele se transforma em elemento para redirecionar o caminho tanto para o aluno quanto para o professor. Aí sim a avaliação é coerente às práticas pedagógicas que objetivam o protagonismo do estudante.

“[…] o erro, como manifestação de uma conduta não aprendida, decorre do fato de que há um padrão já produzido e ordenado que dá a direção do avanço da aprendizagem do aluno e, consequentemente, a compreensão do desvio, possibilitando a sua correção inteligente. Isso significa a aquisição consciente e elaborada de uma conduta ou de uma habilidade, bem como um passo à frente na aprendizagem e no desenvolvimento. Ou seja, foi o erro, conscientemente elaborado, que possibilitou a oportunidade de revisão e avanço. Todavia, se nossa conduta fosse a de castigar, não teríamos a oportunidade de reorientar, e o aluno não teria a chance de crescer.” (LUCKESI)

Portanto, o ensino, nesse caso, ficaria dividido em ciclos e passaria a ser focado no sucesso do aluno, afinal, ele vai para a escola com o objetivo de aprender, de vencer.

  1. Aprendizagem é um processo contínuo
  2. Pronta ação diante do diagnóstico
  3. Promoção da aprendizagem e não uma seleção ou uma classificação.

Essa maneira de enxergar a avaliação e os resultados trazidos por ela nos faz pensar nesta afirmação de SANTOS: há que se considerar “ainda a necessidade de incentivar a autoconfiança dos alunos na sua aprendizagem e de desenvolver uma postura reflexiva a partir dos dados recolhidos, de modo a que os envolvidos compreendam a finalidade das ações que desenvolvem. Acrescentaríamos, aqui, a necessidade de indicar que ações desenvolver em seguida, ou seja, a avaliação deve proporcionar ao avaliador e ao aluno diretrizes do modo como evoluir e desenvolver a aprendizagem.”

Seguindo essa linha de reflexão, apresentamos algumas sugestões – do ponto de vista da Metodologia Labor – que podem ser consideradas para que a avaliação da aprendizagem esteja integrada ao processo de ensinar e aprender:

  • incluir a avaliação no planejamento
  • elaborar a avaliação com uma linguagem familiar ao aluno
  • anular questões com alto índice de erro
  • analisar os erros
  • indicar, com clareza, os objetivos não alcançados
  • reconhecer, citar e valorizar os progressos, por menores que sejam
  • aplicar avaliações orais
  • considerar avaliações práticas, como jogos, por exemplo
  • inserir avaliação permanente (contínua – durante o processo: respostas em sala de aula/participação, realização de trabalhos propostos)
  • validar a autoavaliação (tomada de consciência do seu processo de aprendizagem/ excelente recurso para a autonomia)

Ainda de acordo com a Metodologia da ONG, compartilhamos alguns indicadores que podem auxiliar o professor a comprovar a eficácia da aprendizagem. São eles:

  • Quais resultados se pretende obter com os alunos em relação ao PPD (Pequeno Projeto Didático)?
  • Que estratégias e instrumentos serão usados para avaliar, com clareza, o que o aluno aprendeu?
  • Em que momento do processo acontecerá a avaliação?
  • Quais são os sinais de aprendizagem? O que indica que o aluno chegou ao que o professor traçou como objetivo?

As sugestões apresentadas anteriormente podem auxiliar educadores a olharem a avaliação com um pouco mais de cautela e, ao mesmo tempo, com a mente aberta para mudanças. Em 2022, ao elaborar o planejamento, será interessante que o professor considere essas reflexões aqui sugeridas. Será um retorno total dos estudantes ao ambiente escolar e, nesse cenário, avaliar/diagnosticar como eles estão em relação a conceitos será algo imprescindível para dar um norte ao trabalho docente, levando em conta a personalização do ensino, algo tão discutido nos últimos tempos.

A avaliação, assim, mostrará o caminho que pode ser traçado pelo professor, sem perder de vista o aluno que ele tem, considerando suas singularidades e a certeza de ele ali está para vencer, para aprender, para encontrar estratégias que o ajudarão a transformar sua vida.

“Importa-nos ter clareza que, no movimento real da operação com resultados da aprendizagem, o primeiro ato do professor tem sido, e necessita ser, a medida, porque é, a partir dela, como ponto de partida, que se pode dar os passos seguintes da aferição da aprendizagem.” (LUCKESI)

Referências Bibliográficas

FERNANDES, D. A avaliação das aprendizagens no Sistema Educativo Português. Educação e pesquisa, 2007.

GOUVEIA, J. Manual de avaliação de formação. AEP – Associação Empresarial de Portugal, 2005.

LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. São Paulo: Cortez, 2005.

SIMÃO, A. M. V. Reforçar o valor regulado, formativo e formador da avaliação das aprendizagens. Santo Tirso: De Facto Editores, 2008.

SANTOS, L. Avaliar para aprender. Relatos de experiências de sala de aula do pré-escolar ao ensino secundário. Porto: Porto Editora, 2010.